DARYA SALTYKOVA – A PIOR SERIAL KILLER RUSSA

Resenha com conteúdo extremamente violento: crimes de tortura, assassinatos brutais, exploração e trabalho escravo. Não é indicado para pessoas sensíveis e é recomendado para maiores de 18 anos.

"A visão de servos trabalhando nos jardins era um constante lembrete visual de que nunca foi possível deixar a crueldade humana inteiramente para trás"

Darya Nikolayevna Saltykova, nasceu no dia 11 de março de 1730, no Império Russo. Darya era a terceira filha de cinco irmãos da abastada família Ivanov.

Seus pais, Nikolai Ivanov e Anna Ivanovna Davydova, compunham a aristocracia Russa do século XVIII. Eles eram ricos e respeitados e sempre pregavam os valores da moral e religiosidade para seus filhos.

A devoção pela religião acompanhou Darya até sua vida adulta, uma pena que a compaixão tenha se perdido pelo caminho. Contudo, mesmo após se casar, participar de ritos sagrados e admirar os relicários da igreja ortodoxa Russa era um dos afazeres prediletos de Darya.


Nada nas aparências de Darya poderia explicar o porquê ela acabou se tornando a pior serial killer que a sociedade russa poderia conhecer. A não ser pelo vasto rastro de sangue que ela deixaria pelo caminho.

Essa é uma história brutal e perversa de uma mulher que se sentia uma Deusa entre os homens, capaz de acabar com todos em seu caminho. Mas não vamos nos apressar, vamos começar pelo início de todo o mal.

A vida de Darya sempre foi privilegiada. Ela era nobre, sua família era influente e ela tinha diversos criados à sua disposição. Porém, mesmo com toda a riqueza, Darya nunca chegou a estudar ou a aprender a ler, e quando atingiu a maioridade, casou-se com Gleb Alexandrovich Saltykov, um capitão respeitado do Regimento de Cavalaria da Guarda Imperial Russa.

Gleb vinha de uma família ainda mais nobre e bem-relacionada que a de Darya, o que aumentou a influência da jovem e recém-casada. Algum tempo após o casamento, Darya e Gleb tiveram dois filhos; o Theodore e o Nicholas.

A notável relevância da família Saltykova na sociedade russa, acabou ocasionando numa pressão social que Darya não estava acostumada a lidar, e tudo piorou quando ela ficou viúva aos 25 anos de idade com 2 filhos pequenos para criar e propriedades importantes para administrar.

As propriedades ficavam em locais diferentes, sendo uma Mansão localizada em Moscou, e uma casa de veraneio na aldeia de Troitskoye. Ambas as casas possuíam dezenas de servos, e de uma hora para outra, Darya era a responsável por todos eles. Com tantas obrigações repentinas, ela se sentiu sobrecarregada e vulnerável às suas terríveis variações de humor.

Ao mesmo tempo em que Darya se sentia, de certa forma, "importante" por ser dona de tudo, ela sentia-se completamente instável por nunca ter sido capacitada para administrar os bens da família, os criados, educar os filhos e manter o altíssimo status dos Saltykova na sociedade russa.

Se até os dias de hoje os ricos e influentes conseguem passam impunes pelos crimes que cometem, na Rússia do século XVIII a coisa conseguia ser ainda pior.

Naquela época, ser uma pessoa nobre era sinônimo de ser alguém superior aos demais, a quem eram cedidos diversos privilégios. Estas pessoas estavam realmente acima da lei, pois, a Rússia vivia um cenário conhecido como a "alta servidão", em que os criados não tinham direitos, eram tratados como os escravos.

Seus senhores vendiam os criados, conhecidos como "almas" ou "camponeses russos" como se fossem animais, eles não eram considerados humanos e nem iguais aos nobres, e, por isso poderiam ser castigados das piores formas possíveis sem que seus agressores fossem responsabilizados.

Ainda que esses criados viessem a falecer, as autoridades faziam vista grossa e não se importavam com o triste fim dos que não eram considerados pessoas naquela época.

Abusos físicos, psicológicos, trabalho braçal, castigos, tortura e humilhações foram normalizados pela elite russa, que se tornava cada vez mais insensível.

Darya não era exceção, e os níveis de castigos aplicados por ela atingiram patamares inimagináveis de crueldade, chegando ao ponto de sua mansão ter sangue impregnado nas paredes e escadas por toda a propriedade.

Darya era obcecada por limpeza e também era temperamental. O resultado dessa combinação não era nada bom para a criadagem que limpava a casa, pois, se o chão não estivesse perfeitamente limpo, Darya pegava um pedaço de pau, um rolo de massa ou o chicote mais próximo e começava a espancar a criada responsável por aquele trabalho.

Bastava que Darya não gostasse do trabalho realizado que isso renderia uma sessão de tortura e em alguns casos até morte dos seus servos.

Por toda a Rússia, os nobres chicoteavam os seus criados, mas Darya não tinha limites. Ela trancava os servos privando-os de comida, açoitava-os, espancava-os, jogava água fervente em seu corpo, entre outros tipos de violência.

Esse comportamento já existia quando Gleb ainda era vivo, mas os espancamentos fatais, ou ao menos a maior parte deles, começaram em 1756, no mesmo ano em que Darya ficou viúva. A primeira queixa oficial contra ela foi registrada em 1757 e denunciava o assassinato de uma mulher grávida chamada Anisya Grigorieva.

Darya espancou em Anisya com um rolo de massa até que ela sofresse um aborto. Após Anisya não ter mais reação, Darya chamou um padre local para que prestasse ajuda à mulher, mas Anisya morreu antes que o padre chegasse na mansão.

Ao chegar, o padre ficou horrorizado diante da visão do cadáver da moça e se recusou a enterrá-lo sem uma inspeção policial. A polícia foi acionada e levou o cadáver ao hospital para uma autópsia e não fez mais nada a respeito.

Anisya tinha um profundo ferimento no coração, e toda a extensão das suas costas estava azul e inchada. Claramente, não havia morrido de causas naturais. Mas as autoridades fizeram vista grossa e Darya seguiu livre.

O marido de Anisya ficou completamente inconformado com a situação, e apresentou uma queixa à polícia contra Darya, ela por sua vez registrou uma contra-acusação, pedindo à polícia que não aceitasse a denúncia do viúvo, sugerindo ainda que ele deveria ser punido e enviado de volta para ela.

A polícia acatou o pedido de Darya, ela então exilou o marido de Anisya, que faleceu pouco tempo depois.

Vários servos conseguiram fugir para denunciar os crimes de Darya, mas todos eram enviados de volta para ela, quando chegavam eram punidos com os piores castigos.

Nenhum policial se atrevia a investigar algum nobre naquela época, e Darya era "protegida", pois, costumava presentear as famílias das autoridades com comida, dinheiro e até mesmo servos para suas propriedades.

Tudo isso a tornava intocável e superior, impossível de ser responsabilizada por suas atrocidades. Após o episódio com Anisya, Darya continuou a matar. Ela matava principalmente mulheres, mas às vezes se voltava contra algum servo.

Chrisanthos Andreev, era o servo encarregado de supervisionar as criadas domésticas. Darya se convenceu de que ele não estava fazendo o seu trabalho de forma adequada e o espancou. Depois o trancou para fora da mansão, onde passou a noite inteira no frio. Na manhã seguinte, Andreev foi levado para dentro, quase congelando. Darya prendeu um par de pinças em brasas em suas orelhas e começou a derramar água fervente sobre seu corpo. Quando ele caiu no chão, ela o chutou e o socou diversas vezes.

Depois disso, ordenou a outro servo arrastasse Andreev completamente ensanguentado para longe dela. Ele morreu poucos minutos depois.

Darya continuou com os horrores nos dias que se seguiam. Ateou fogo no cabelo de uma mulher e empurrou uma menina de onze anos de uma escada de pedra que acabou falecendo.

Ele costumava fornecer apenas uma refeição por dia aos seus criados para que eles ficassem intencionalmente fracos demais para resistir a qualquer castigo. Ela também deixava toras de madeiras em todos os cômodos da mansão para que pudesse usá-los sempre que julgasse necessário.

Era comum que os vizinhos de Darya ouvissem frequentemente gritos aterrorizantes vindo da mansão. Certo dia, um dos seus servos se atreveu a insultá-la, Darya agarrou seu cabelo e começou a esmagar a cabeça do homem contra uma parede.

E embora as denúncias contra Darya aumentassem, nada acontecia a ela. Era como se o sistema a apoiasse, ela se tornava cada vez mais destemida e brutal.

Depois da morte de Gleb, Darya namorou o capitão Nikolai Andreyevich Tyutchev, ele era um dos vizinhos de Darya e ela rapidamente se apaixonou. Entretanto, o romance não durou muito, e o casal se separou pouco antes da Quaresma de 1762, quando Darya estava prestes a completar 32 anos de idade.

Logo após o rompimento, Nikolai ingressou em um novo relacionamento. Darya ficou furiosa e tudo piorou quando ela descobriu que o capitão estava planejando pedir a mão da nova namorada em casamento.

Darya ficou tão descontrolada que passou a articular uma vingança bizarra que consistia na explosão do novo casal.

Cega pelo desejo de vingança, Darya ordenou que seus servos comprassem dois quilos de pólvora. O material foi misturado a enxofre e embrulhado em tecido de cânhamo. Ela ordenou que um dos seus servos espalhasse discretamente a mistura inflamável ao redor da casa da nova namorada do capitão e esperasse a chegada do mesmo. E uma vez que os dois estivessem no interior da casa, o servo deveria incendiar a propriedade, explodindo-os.

Nenhum de seus servos obedeceram a ordem desvairada de Darya, e decidiram que a única maneira de escapar dessa absurda fantasia vingativa era contar tudo ao capitão. Foi o que fizeram, e Niki imediatamente se dirigiu à polícia a fim de prestar queixa contra sua ex-amante. Darya se manteve serena e negou tudo quando questionada sobre seu plano pela polícia.

Como Darya negou tudo e nada de ruim aconteceu ao Niki e sua namorada, todos foram liberados e Darya estava livre mais uma vez.

Frustrada com o fracasso de seu plano, Darya seguiu com suas torturas diárias e brutais. Mas felizmente, os dias de assassinatos cruéis chegava ao fim. Yermolai Ilyin, o cuidador dos cavalos da mansão nutria um ódio especialmente vasto por Darya, já que ela havia matado as três servas com quem Ilyin fora casado.

Darya sabia que ele a odiava, mas ela o ameaçava o suficiente para que ele não fizesse nada contra ela. Contudo, mesmo sabendo dos riscos que corria, em abril de 1762 Ilyin decidiu recorrer a um sistema que não se importava com ele, ou com sua vida, e foi até a cidade de São Petersburgo para denunciar Darya diretamente à Imperatriz Catarina II, ou Catarina, a grande.

Breve contexto histórico do reinado de Catarina, a grande.

Catarina II foi a Imperatriz da Rússia de 1762 até 1796, ano de sua morte. Catarina se tornou a imperatriz da Rússia após supostamente ter organizado um golpe de estado contra seu próprio marido, que morreu pouco depois de ser destituído do trono.

Durante o reinado de Catarina, a grande, o Império Russo melhorou sua administração e se modernizou. Mas houveram diversos conflitos internos no país, já que Catarina privilegiava a nobreza, enquanto negligenciava os camponeses e conflitos externos por disputas territoriais.

Mas o reinado de Catarina de certa forma revitalizou a Rússia, pois, ela procurou se adaptar aos ideais do chamado “despotismo esclarecido”, que embora partilhasse com o absolutismo a exaltação do Estado e do poder do soberano, era permeado pelos ideais de progresso, reforma e filantropia do Iluminismo.

E bom, voltando para o caso. A atitude de Ilyin era basicamente uma missão suicida, mas deu certo. Ele levou uma carta contendo acusações nos mínimos detalhes, sobre os últimos 6 anos em que Darya havia matado mais de 100 pessoas.

A história soou escandalosa o bastante para chamar a atenção das autoridades de São Petersburgo, que encaminharam a denúncia ao Conselho de Justiça junto de uma nota que solicitava o início da investigação sobre a vida de Darya Saltykova.

De certa forma, o caso de Darya surgiu no momento certo para Catarina, já que a imperatriz vinha tentando mostrar ao mundo que uma "nova era começava para a Rússia" - "uma era humanizada e iluminada", onde ter sangue nobre não era mais uma desculpa para fazer o que bem entendesse. Assim, o caso de Darya foi usado como exemplo. Já que agora, perante a lei, todos eram iguais!

Mas isso tudo em teoria, veremos que as coisas não foram "preto no branco", até porque, Catarina sofria muita pressão para lidar diplomaticamente com o caso. Como Darya pertencia a uma família de prestigio, outros membros da elite russa estavam atentos para que o caso não se tornasse um precedente para que outros nobres fossem investigados.

Pois Darya certamente não era a única aristocrata que fora longe demais nos espancamentos. Ainda assim, as acusações contra Darya eram sérias o bastante para que Catarina as investigassem com afinco. Até então, o número de assassinatos atribuídos a Darya havia chegado a 138 pessoas. E a nobreza gostando ou não, o Conselho de Justiça estava lidando com um dos piores assassinos em série da história, independentemente do gênero.

Devido ao interesse pessoal de Catarina no caso, a investigação contra Darya foi incrivelmente metódica. Os investigadores russos conversaram com centenas de testemunhas, tanto em Moscou como em na aldeia da casa de veraneio, fazendo uma apuração cuidadosa e confirmando cada alegação contra a Darya.

Essas testemunhas eram tão bem informadas e precisas em seus depoimentos quanto um investigador poderia desejar. Elas se lembravam dos nomes dos camponeses mortos e as datas em que cada um deles havia morrido.

Mas o posicionamento de Darya sobre as 138 mortes atribuídas a ela foi a seguinte: "Eu não sei de nada; eu não fiz nada".

No dia 02 de outubro de 1768, Catarina assinou um decreto dizendo que: "Tendo considerado o relatório que nos foi fornecido pelo Senado sobre os crimes cometidos pela desumana viúva Darya, filha de Nicholas, concluímos que ela não merece ser chamada de ser humano, pois é realmente pior do que os mais famosos assassinos, extremamente insensível e cruel, incapaz de refrear sua raiva."

Durante os anos da investigação especulações sobre Darya foram surgindo, como rumores que afirmavam que ela era canibal por exemplo. Catarina encorajava o espetáculo, enviando convites para todas as casas nobres, exigindo que todos assistissem ao castigo de Darya.

Também serviu como uma ameaça velada: alertando os nobres sobre as consequências reais de seu abuso de poder. Afinal de contas, havia um sutil iluminismo chegando.

No dia 18 de outubro de 1768, na estação da Praça Vermelha, ao meio-dia, Darya foi levada para fora e amarrada a um mastro. Uma placa estava pendurada em seu pescoço com os dizeres: A ATORMENTADORA E ASSASSINA.

Um guarda permaneceu ao lado dela enquanto sua sentença era lida em voz alta. Particularmente, preciso dizer que a Catarina não conseguia aplicar suas ideias de governo com muita coerência, pois, o que ela fez com Darya na Praça Vermelha foi basicamente um tipo de suplício, prática que vai contra os ideais iluministas. Eu falo mais sobre isso no episódio "Como surgiram as prisões? A origem do cárcere".

E bom, a punição de Darya não foi sangrenta, mas foi longa, solitária e sombria. Ela foi colocada em uma cela de prisão subterrânea chamada "câmara de arrependimento", acessada apenas por uma freira e um zelador que fazia a guarda.

Nem um único feixe de luz era permitido lá dentre exceto por uma vela durante as refeições. Darya permaneceu assim, em total escuridão, por onze anos.

Em 1779, Darya foi transferida para uma câmara esculpida em rocha com uma pequena janela gradeada, e foi lá que ela permaneceu até a sua morte no dia 27 de novembro de 1801.

Darya permaneceu presa por 33 anos e jamais confessou seus crimes.

Fontes de pesquisa: 

Resenha do Livro "Lady Killers - Assassinas em Série 

Ficha Técnica do livro

  • Título: Lady Killers - Assassinas em Série
  • Autora: Tori Telfer
  • Editora: DarkSide Books
  • Ano de Publicação: 2019
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