Caso Henry Borel Medeiros

A história a seguir contém descrições de crimes violentos, abuso psicológico, violência e tortura contra criança. Não indicado para pessoas sensíveis. Indicado para maiores de 18 anos.

   Mensagem da escritora: O caso de hoje é um pouco diferente do que tenho costumado publicar aqui no The Crime, é um caso atual e que ainda está em fase de investigação, portanto, as informações contidas nesse texto estão passíveis de alteração e se referem as informações divulgadas até a data de sua publicação (15 de abril de 2021). 


    Além disso, por se tratar de um crime cometido contra criança deixei informações e telefones úteis ao final do texto para que, caso você ou alguém próximo a você esteja enfrentando uma situação parecida, possam buscar ajuda o quanto antes.  


   Você não está sozinho (a)! E por favor, façam algo a respeito. Se envolvam sim quando uma criança pede pôr ajuda, prestem atenção aos sinais que elas estão tentando nos passar (também deixei link de uma matéria ensinando a como identificar esses sinais). 


Dito isso, vamos para a história. 


A triste história da criança silenciada pela violência conhecida por quem mais deveria amar, zelar e proteger, mas que escolheu negligenciar a dor de seu próprio filho, não acreditando que o pior pudesse de fato, acontecer.


   Henry Borel Medeiros, nasceu no dia 03 de maio de 2016, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, filho da professora Monique Medeiros da Costa e Silva e do engenheiro Leniel Borel 


   Monique e Leniel se conheceram em 2011 e foram casados por aproximadamente nove anos. Segundo informação eles se divorciaram no ano passado (2020), mas mantinham uma relação amigável e sempre conversavam sobre questões referentes ao filho, Henry. 


   Henry foi uma criança alegre e carinhosa, mas, aos 4 anos de idade passou a sofrer violências físicas e psicológicas após a mãe conhecer o então vereador da cidade do Rio de Janeiro, Jairo Souza Santos Júnior, ou "Jairinho", que segundo elementos de uma investigação iniciada após um crime terrível, restou comprovado ser o autor das agressões e violências sofridas por Henry. 


   Monique conheceu Jairinho em agosto de 2020, eles se apaixonaram e foram morar juntos em janeiro de 2021, num apartamento na Barra da Tijuca (um bairro nobre do Rio). No início de fevereiro Monique procurou por uma psicóloga, uma vez que Henry demonstrava não querer morar com o padrasto, ele sentia medo de ficar sozinho na presença dele, e costumava evitar o contato visual com o padrasto. Eram corriqueiras as manifestações de Henry em querer voltar a morar com a avó materna. 


    O primeiro relato concreto de que Henry sofreu violência física e psicológica foi no dia 12 de fevereiro de 2021, isso ficou comprovado depois que a polícia conseguiu recuperar uma conversa em que a babá de Henry, Tayná de Oliveira Ferreira, relata para Monique em tempo real que Jairinho teria atraído Henry para seu quarto, trancado a porta e aumentado o volume da televisão, impossibilitando que Tayná pudesse escutar o que acontecia no local. 


   A conversa é bastante perturbadora e deixa claro que o fato de Jairinho se trancar no quarto com Henry não poderia ser um bom sinal, mas a babá decidiu não interferir e esperou até que eles saíssem do quarto. Monique que estava em um shopping próximo de sua casa não retornou para o apartamento afim de impedir o que quer que estivesse acontecendo ali dentro. 


   Após Jairinho deixar o apartamento, Tayná conseguiu gravar um vídeo em que Henry aparecia mancando e tirou uma foto de seu joelho inchado. Henry contou a ela que Jairinho o chutou e lhe deu uma rasteira, o que provavelmente fez com que ele machucasse a cabeça, pois, quando Tayná o levou para tomar banho ele pediu para que ele não lavasse a sua cabeça, pois doía muito. 


   No dia seguinte, 13 de fevereiro de 2021 às 11h59 foi registrada a primeira entrada de Henry no Real D'or Hospital na zona oeste do Rio de Janeiro, nesse primeiro boletim médico Monique declara que Henry caiu de sua cama no dia anterior, por volta das 17h00, mesmo horário em que houve a troca de mensagens com a Tayná, onde ela relatou as agressões que Henry sofreu por parte de Jairinho, para a mãe. Ficou registrado no boletim médico que Henry sentia dores e mancava, mas não tinha febre. 


   No dia 07 de março de 2021, por volta das 19h30, Leniel estava levando Henry de volta para a casa de Monique, após passar o fim de semana com o filho, Henry fica extremamente ansioso e diz ao pai que não quer voltar para a casa da mãe, Leniel diz para ele se acalmar e que no final de semana seguinte o buscaria para ficar com ele de novo. Henry insiste e pede para o pai que ficasse com ele por mais um dia, Henry chorava muito e ficou tão desesperado que chegou a vomitar de medo.  


   Como a guarda de Henry era compartilhada, Leniel precisou entregá-lo a mãe. Ela, por sua vez não estranhou o fato de Henry vomitar e ficar visivelmente apavorado com o fato de retornar para casa, por se tratar segundo ela de "algo normal". 


    Na madrugada desse mesmo dia (07 para o dia 08 de março de 2021) foi dada a segunda entrada de Henry no Real D'or Hospital na zona oeste do Rio de Janeiro, ele já estava sem vida. De acordo com o relato dos médicos, ele apresentava um quadro de PCR (parada cardiorrespiratória) e, depois de sucessivas tentativas dos médicos em reanimá-lo, veio a óbito às 05h42. 


   O que ficou estranhamente evidente é que embora Jairinho tenha diploma de médico, ele sequer tentou fazer respiração boca a boca ou massagem cardíaca para salvar Henry. Depois, Jairinho disse em entrevista que não o fez porquê nunca exerceu a medicina e que a última vez que realizou estes procedimentos tinha sido com um boneco na época de faculdade.  


   Segundo depoimento inicial de Monique, na madrugada de 08 de março ela e Jairinho estavam assistido televisão no quarto de hóspedes, já que Henry estava dormindo no quarto deles. Ela contou que acordou de madrugada, por volta das 03h30, com o barulho da TV, e foi até o quarto ver se o filho estava dormindo, nesse momento ela o encontrou deitado no chão. "Quando abri a porta do quarto, vi ele deitado no chão. Peguei meu filho, botei em cima da cama. Estranhei. As mãos e os pés dele estavam muito geladinhos. Chamei o Jairinho. Ele enrolou meu filho numa manta e fomos ao hospital". 


   Um laudo posterior indicou que Henry tinha cerca de vinte e três lesões espalhadas pelo corpo, sendo algumas delas lesões no crânio, ferimentos internos e hematomas nos membros superiores. Nove peritos disseram que os exames indicavam que criança teve uma morte violenta.  


   O laudo da necropsia feito pelo Instituto Médico-Legal (IML), ao qual o jornal o GLOBO teve acesso, revelou que no corpo de Henry realmente contava com pelo menos vinte e três lesões e que não poderiam ser consideradas compatíveis com uma "queda da cama", como foi sugerido por Monique. Os peritos afirmaram que "as lesões produzidas na vítima e o seu óbito ocorreram no interior do apartamento no intervalo entre 23h30 e 3h30". 


    Ainda de acordo com o documento, a imagem da câmera do elevador mostra que Henry já estava morto quando deixou o apartamento no colo de sua mãe quando estava sendo levado ao hospital. Jairinho também aparece na imagem reproduzida no documento. Segundo o laudo, ao analisar o vídeo, pôde ser constatado que Henry apresentava "abolição de motilidade e de tônus muscular", o que significa que o óbito tinha ocorrido havia pouco tempo. As imagens mostram ainda que o casal saiu às 04h09 do dia 08 de março, aproximadamente 39 minutos depois de terem supostamente encontrado Henry caído no chão. 


   Henry foi enterrado no dia 10 de março de 2021, no cemitério do Murundu, na zona oeste do Rio de Janeiro. 


   A polícia iniciou uma investigação a partir do resultado do laudo da necrópsia afim de descobrir quem poderia ter desferido as agressões que causaram as lesões encontradas no corpo de Henry. E no final de março, 12 pessoas já haviam sido ouvidas como testemunhas, incluindo as três médicas pediatras que atenderam Henry no hospital. Elas afirmaram que o menino já chegou morto ao local. 


   Inicialmente a mãe e o padrasto de Henry foram ouvidos como testemunhas, mas, com o decorrer das investigações algumas incongruências foram encontradas e as versões de alguns depoimentos não correspondiam com outras versões apresentadas anteriormente. E os dois passaram a ser considerados suspeitos.

 

   Em entrevista coletiva fornecida no início dessa semana do dia 15 de abril de 2021, o delegado responsável pela investigação, Dr. Henrique Damasceno diz que ficou muito bem demonstrado e comprovado na investigação que Henry vivia uma rotina de violência e sofrimento, e afirma: "Hoje temos todos os elementos probatórios e podemos sim afirmar que temos provas que essa criança foi assassinada e não foi vítima de um acidente doméstico". 


   Segundo o delegado, o casal é investigado por homicídio duplamente qualificado, por agressão e tortura sem possibilidade de defesa, Henry sofreu hemorragia interna e laceração hepática provocada por ação contundente e por ter apenas 4 anos de idade restou comprovado não ter capacidade de se defender da agressão de um homem adulto. 


   Monique e Jairinho foram presos no dia 08 de abril de 2021, por interferência nas investigações e envolvimento com o crime. 




   Eles manipularam o depoimento de pelo menos duas testemunhas, sendo um deles o da babá Tayná e o da empregada da família, que inclusive limpou a cena do crime antes que a polícia pudesse fazer uma perícia no local, a mando deles. 


   Além disso, Monique pediu para que Tayná apagasse as mensagens de seu celular, em que ela relatou as agressões que Henry sofreu no dia 12 de fevereiro de 2021. A recuperação dessas mensagens só foi possível através da utilização do Cellebrite Premium, um software de uso exclusivo das autoridades policiais. Foi uma prova técnica crucial para comprovar que as agressões sofridas por Henry, partiram de Jairinho e com o conhecimento de Monique. Essa conversa possibilitou que o delegado Henrique Damasceno realizasse o requerimento da prisão do casal, o pedido foi corroborado pelo Ministério Público e deferido pela juíza do 2º Tribunal do Júri.  


    O delegado afirmou que: "As mensagens que foram obtidas através de uma prova técnica de fato comprovam que essa criança vinha sofrendo agressões dentro do apartamento. Agressões praticadas pelo vereador e médico Dr. Jairinho. Todas as provas técnicas serão juntadas ao inquérito policial, mas neste momento podemos afirmar sim que houve toda uma arquitetura incompreensível caso fosse um acidente, a combinação de depoimentos. Algo que não se espera de uma família enlutada. Todas as provas técnicas estão sendo finalizadas". 




   Em entrevista posterior à noite do crime, Leniel (pai de Henry) contou que o filho falou algumas vezes para ele que Jairinho costumava dar abraços muito apertados e que ele não gostava desses abraços, em outro momento ele disse que o "tio" o machucava. Leniel questionou Monique acerca dessas afirmações do filho, mas ela negou qualquer possibilidade de que Henry sofria violência e afirmou que se isso estivesse acontecendo mataria Jairinho. Leniel acreditou na ex esposa e não tocou mais no assunto, segundo ele, também não encontrou hematomas no corpo do filho. 




   As investigações ainda estão sendo realizadas, e Monique e Jairinho permanecem presos. Monique contratou uma nova equipe de advogados, separando assim sua defesa da de Jairinho. 


   O pai de Henry se culpa por não ter feito mais pelo filho, averiguado as reclamações das agressões mais afundo e tem postado homenagens a Henry em suas redes sociais. 

 

 

   É assustador saber que casos como o de Henry sejam uma realidade triste do nosso país. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), 2.083 crianças de até 4 anos morreram vítimas de agressão nos últimos 10 anos. E de acordo com especialistas, a maioria dos casos de agressão é cometida por parentes.

 

  Segundo uma matéria feita pelo UOL: o estudo mostra que, se forem consideradas as crianças de até 9 anos, o número sobe para 3.099 óbitos. Com a inclusão de adolescentes de até 19 anos, são 103.149 mortos. Os dados são do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde de 2010 a agosto de 2020 e foram organizados pela SBP. 


  É evidente que existe um problema social grave. A violência contra a criança opera em vários níveis, ela aparece desde quando o filho é castigado com palmadas até outros castigos físicos mais graves. 


  Para isso foi elaborada a "Lei Menino Bernardo", sancionada em 26 de junho de 2014, que alterou o Estatuto da Criança e do Adolescente para estabelecer o direito de crianças e adolescentes de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante.  


  Mas é revoltante ver a história se repetir tantas vezes, existe um sistema de proteção da criança falho, e isso fica claro quando nos deparamos com os dados de que pelo menos 2 mil crianças de até 4 anos morreram em decorrência de algum tipo de agressão nos últimos dez anos. 


  Por isso, é importante que as pessoas denunciem casos de violência contra a criança, não é necessário que se tenha certeza de que a violência de fato ocorra, a simples suspeita pode ser denunciada. Só assim poderemos evitar que casos como o de Henry Borel, Isabella Nardoni, Bernardo BoldriniRhuan Maicon da Silva e tantas outras crianças tenham o pior fim possível. A morte.


em memória de Henry Borel


Em casos de violência contra a criança saiba como denunciar 

Disque 100 para denunciar violações de direitos da criança e/ou do adolescente (como violência física, psicológica e/ou sexual) 

Secretaria de Direitos Humanos 

 
 

Disque 180 em casos de violência contra mulheres e meninas, seja violência psicológica, física, sexual causada por pais, irmãos, filhos ou qualquer pessoa.  

 
 

Disque 190 em casos de emergência que necessitam de socorro rápido 

 
 

As ligações são gratuitas e podem ser feitas de forma anônima. Os serviços de atendimento funcionam 24 horas por dia, todos os dias da semana. 


Desenho do Nando Motta https://www.instagram.com/desenhosdonando/

 


* As imagens utilizadas por esse artigo foram retiradas do Google 

 

  

Para mais informações de telefones úteis acesse o site: 

 
 

Fontes de pesquisa: 

Informações sobre o laudo médico de óbito de Henry Borel: https://oglobo.globo.com/rio/caso-henry-laudo-apontou-23-lesoes-no-corpo-da-crianca-24966617 


Entrevista com o pai de Henry - Leniel Borel: https://www.youtube.com/watch?v=etMkDXzmZmo&ab_channel=CNNBrasil 


Mensagens entre a mãe e a babá de Henry: https://www.youtube.com/watch?v=wbk37kqDR4g&ab_channel=CNNBrasil 

 Caso Henry: os detalhes da investigação e da prisão de Dr. Jairinho I AO PONTO: https://www.youtube.com/watch?v=pxNCpoYMFNc&list=TLPQMTIwNDIwMjH364kZzEY0_w&index=2&ab_channel=JornalOGlobo 

 

Estudo demonstra que pelo menos 2.083 criaças de até 4 anos de idade morreram vítimas de agressão no s últimos 10 anos o Brasilhttps://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/04/no-brasil-2083-criancas-de-ate-4-anos-morreram-vitimas-de-agressao-nos-ultimos-10-anos.shtml
 


 
 



Caso Isabella Nardoni

Caso Bernardo Boldrini

Caso Rhuan Maycon


Comentários

  1. Cara, que texto pesadíssimo, e muito obrigado por toda sua pesquisa e por disponibilizar isso no seu blog, é de uma leitura essencial e necessária.

    Nem imagino a dor desse pai, e nem o medo que esse menino sentia e sem poder se defender e nem se explicar...e essa imagem aí no final é pra cortar o coração =\

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    1. Muito pesada, real!!! Eu fiquei sem dormir por noites pensando em tudo isso, muito triste :(

      É muito importante que as pessoas denunciem ao menor sinal de violência!!!

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  2. Respostas
    1. Sem dúvidas! Acho que foi o caso mais difícil de escrever :( me deixou péssima por dias...

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